Paulista 1988. |
A semana que precedeu o primeiro jogo da decisão do Paulistão de 1988, jogado no
No sábado, dia 30 de julho, véspera do jogo, eu me lembro muito bem, foi um sábado de muita chuva e muito frio. A previsão do tempo dizia que, no domingo, continuaria desse mesmo jeito.
Mas, o domingo amanheceu, misteriosamente, ensolarado, pegando de surpresa todos os corintianos, que armaram uma grande caravana para seguir até a cidade de Campinas, para disputar o jogo que lhe daria o vigésimo título paulista e que manteria o Corinthians como o maior vencedor do estado.
Por incrível que pareça, o time que Jair Pereira colocou em campo na final, era o time considerado ideal na cabeça do treinador, que ele tentou exaustivamente colocar durante todo o campeonato e não estava encaixando da maneira que ele queria.
Jair montou um clássico (mas pouco usado na época) 4 - 4 - 2, com dois volantes, dois meias e um atacante e um centroavante.
Viola no time titular. Jogou muito. |
Todos falam, até hoje, do timaço que o Guarani tinha naquele campeonato. E realmente, isso é verdade. Ainda mais com o retorno de João Paulo, o ponta esquerda craque que fazia a diferença nos jogos.
Mas, o técnico do Timão mandou o time pra cima, afinal precisava vencer para se tornar campeão. O empate era do adversário. E colocou, jogando na casa deles, com o apoio da torcida adversária e, principalmente, da mídia, que estava inteira contra o Corinthians, claro (já sabemos disso), o clássico esquema tático citado, com apenas dois volantes e quatro jogadores chegando à frente. E colocou Viola como titular. Se era a hora ou não de dar a oportunidade ao garoto, a resposta só viria em campo.
Na época, jogador com potencial que aparecia na base era colocado pra jogar. Não é como hoje, por exemplo, como aquele jogador do clube carioca que sonha em ser o Corinthians. O menino já está vendido pra Europa, mas nunca foi titular da equipe. Aqui não. Surgiu, reúne condições de jogo, entra pra jogar.
E Viola entrou e convenceu. Deu trabalho à defesa do Guarani, não deixando o time de Campinas subir absoluto ao ataque. Função tática do garoto importantíssima. Ele, além de tentar marcar gol, precisava segurar alguns jogadores na defesa.
O jogo fui muito mais truncado do que a primeira partida. E é fácil saber o por quê. No domingo anterior, o Corinthians, com tres volantes, não ofereceu perigo no ataque e só se defendeu. O Guarani desceu inteiro pra cima do Timão. No segundo tempo, buscando o empate, o Corinthians foi pra cima e o jogo ficou mais franco, mais igual, com várias oportunidades para ambos os lados.
Biro-Biro jogou muito a final (foto: Gazeta). |
Na segunda partida, o Guarani adotou uma postura mais defensiva, já que o empate era suficiente. O Corinthians, então, precisava atacar (não vou dizer "propor o jogo", pois eu odeio essas expressões de modinha), pois era o que lhe restava, mas, a defesa bem postada do Guarani, anulava bem as investidas alvinegras.
No primeiro tempo, uma falta cobrada por Evair e uma defesa de Ronaldo num chute mascado de Paulo Isidoro no lado do Guarani. Um cruzamento perigoso que Éverton não alcançou de cabeça e um chute de João Paulo foram as chegadas do Corinthians.
No segundo tempo, menos ainda. O Guarani não jogou bola. Não tentou nada. O Corinthians não conseguiu furar o bloqueio alviverde, principalmente porque Éverton, o grande destaque do Corinthians durante todo o campeonato se contundiu e não voltou para a segunda etapa de jogo. Wilson Mano entrou em seu lugar. Houve um lance para o Guarani, que Ronaldo abafou bem o chute de Neto e Denílson rechaçou para a linha de fundo e uma ou outra chegada tímida do Corinthians, sem grandes emoções.
Mas, a torcida corintiana fazia a festa. Cantava sem parar em mais uma invasão em sua história.
E o tempo regulamentar acabou. Agora, prorrogação.
E, para o Corinthians, era o tudo ou nada. Então, Jair Pereira entrou na prorrogação com Paulinho Gaúcho no lugar do Márcio e passava a tentar jogar com dois pontas abertos.
Após o jogo, Jair confessou: " - Todo mundo dizendo 'temos que entrar com o Paulinho, temos que entrar com o Paulinho...', todos se oferecendo a sair e eu disse 'não, vou tirar que eu acho'. E tirei o Márcio, que estava bem na partida!".
Carbone, por sua vez, sacou Neto do time e colocou o fraquíssimo Careca em seu lugar. Lembrem-se sempre que não é o Careca do Nápoli, ok?
O Guarani, num salto alto escandaloso, quis brincar de vencer título. O Corinthians, uma máquina de ganhar títulos, entrou com o sangue nos olhos na prorrogação. Era agora ou nunca.
Aos 4 minutos do primeiro tempo da prorrogação, Evair quis dar um "totozinho" pra limpar a jogada em cima de Marcelo, ainda em seu campo de defesa e, claro, perdeu a bola para um talento maior que o dele. Marcelo ainda fez dois jogadores bugrinos se chocarem ao tocar a bola para Wilson Mano, abrindo a frente para que o volante pudesse arriscar o chute. E assim o fez. Foi o maior chute errado da história do Corinthians (superando o chute errado de Biro-Biro na semifinal do Paulistão de 79). Foi o chute errado que significou o título corintiano, pois, uma bola que seguiria tranquilamente para a linha de fundo, foi interceptado, no meio de sua trajetória, por um carrinho do garoto centroavante do Timão, VIOLA.
Mano erra o chute e Viola, no carrinho, marca um dos maiores gols da história do Corinthians. |
Gol do garoto que havia sido pauta em todos os programas esportivos da semana. Gol do garoto Viola, o do título, título, este, que simbolizava o centenário da Abolição dos Escravos no Brasil.
Viola, o único representante negro em campo com a camisa do Time do Povo, fez a festa, correu pra torcida, atirou a camisa pro povo (ele estava com outra por baixo), dançou e extravasou.
A partir daí, acabou o jogo...
Carbone fez a sua segunda alteração. Tirou Barbieri e colocou o centroavante Mário, mas não deu.
Apesar de alguns lances interessantes por parte de Guarani, principalmente em cobranças de falta, o Corinthians se retrancou e passou os próximos vinte e poucos minutos de jogo quebrando a bola de sua defesa.
O jogo pegou fogo. Arnaldo Cesar Coelho teve trabalho.
A experiência dos jogadores do Guarani não conseguiu superar a catimba do Corinthians. Todos no Timão se agigantaram. Poucas vezes se viu uma atuação tão segura de um zagueiro como a atuação de Denílson. Ronaldo, seguro no gol. Defendeu uma falta de João Paulo, de onde ele gostava de bater, no final do segundo tempo da prorrogação que garantiu o título.
Edson em ação. Outro leão em campo. |
O Corinthians foi heroico, foi valente, foi vibrante. Foi campeão!!!
A torcida fazia a sua parte na arquibancada. Dava uma festa nunca antes vista no estádio do Guarani.
Aos 16 minutos do segundo tempo da prorrogação, Arnaldo Cesar Coelho decretou o final do jogo. O Corinthians, com o gol de Viola, conquistava o seu vigésimo título paulista. Até hoje, ninguém conquistou mais do que o Timão na história do Paulistão.
Foi uma conquista histórica, cheio de contos e causos. Um título, às vezes, esquecido pela imprensa, pela torcida, mas que teve os seus heróis e que merecem todas as honras do clube e da torcida.
Obrigado, Corinthians, por nos proporcionar tudo o que nos proporciona.
Sem você, não existiríamos...
Local: Brinco de Ouro da Princesa - Campinas
Data: 31/07/1988 (Domingo)
Horário: 16:00 h
Árbitro: Arnaldo David Cezar Coelho (SP)
Assistentes: Reinaldo Teixeira Acquesta (SP) e Edmundo Lima Filho (SP)
Gol: Viola, aos 4 minutos do primeiro tempo da prorrogação.
Renda: Cz$ 17.543.200,00
Público: 49.727 (49.604 pagantes e 123 menores)
Cartões Vermelhos: Paulinho Carioca e Paulo Isidoro aos 5 min. do 2o. tempo da prorrogação.
GUARANI - Sérgio Neri, Marquinhos, Vagner, Ricardo Rocha e Albéris; Paulo Isidoro, Barbieri (Mário Maguila) e Boiadeiro; Neto (Careca), Evair e João Paulo. Técnico: José Luiz Carbone.
CORINTHIANS - Ronaldo, Edson, Marcelo, Denílson e Dida; Biro-biro, Márcio (Paulinho Gaúcho) e João Paulo; Viola, Éverton (Wilson Mano) e Paulinho Carioca. Técnico: Jair Pereira.
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